Preservar Ipameri


          Nasci em Ipameri em 1978, tendo orgulho de ter sido criado nessa cidade até os 13 anos, quando me mudei para Goiânia.

          Nunca deixei de visitar a cidade que tanto amo, mas sempre que retorno percebo mudanças ocorridas e nem sempre com a preocupação de preservar a história e a memória do povo ipamerino.

          Nesse sentido, um fato lamentável ocorreu nos últimos tempos – a cobertura asfáltica jogada em cima do calçamento de pedras (paralelepípedo) de Joaquim Gonzaga e David Domingues na década de 50 e 60. Estes dois, com todo respeito, devem ter se revirado em seus túmulos pelo fato ocorrido, a exemplo de Michelangelo e Júlio II, citados pelo Sr. Ramon Edreira.

          Não vi benefício algum no asfaltamento sobre o calçamento de pedras, já que não eram irregulares a ponto de atrapalhar a passagem de carros e pedestres. Isso não é progresso, pelo contrário. Percebi que agora os carros andam com maior velocidade.

          O asfalto nos novos bairros é de grande importância até para a saúde pública, mas no centro não havia necessidade. Para quê esconder o calçamento que dava um aspecto nostálgico à cidade? Com o asfalto foram se as pedras e o brilho que emanava delas e proporcionava encantamento e poesia aos mais românticos. Preferiram a alta temperatura da massa asfáltica.

          Em Goiás-GO, da tia Tó (Da. Antolinda Borges), as ruas são irregulares por suas pedras de variados tamanhos, porém há quem possa impedir e vigie cada retirada para que sejam recolocadas nos seus devidos lugares. Da mesma forma em Pirenópolis-GO com seu “pé-de-moleque” assentado nas ruas e sob a vigilância do Sr. Pompeu (Delegado de Cultura).

         
Ainda tem muitas pessoas em Ipameri que se preocupam com a preservação da paisagem histórica da cidade, mas falta pulso para impedir que fatos como o asfaltamento do centro, a retirada de dois obeliscos da Praça da Liberdade, demolição de igrejas, estação ferroviária e residências históricas, interferência em prédios públicos, continuem a acontecer. O protesto tem que acontecer antes do fato consumido, depois resta apenas lamentar. È preciso juntar forças para impedir que ocorram perdas como essas.

          Não podemos deixar acabar o que já nos trouxeram tantas alegrias. O que fizeram no Colégio das Irmãs (onde estudei) foi uma grosseria, tanto na quadra de esportes quanto na entrada da capela. A paisagem foi completamente alterada com a construção do salão de eventos e a gruta, que poderia ter sido construída de forma mais discreta, não interferindo no conjunto arquitetônico.

          Pior do que isso é quando um imóvel está tombado pelo município e é “tombado” de vez, vai ao chão, como o que ocorreu com a belíssima casa do Sr. João Lang, no Largo da Várzea, próximo ao Jóquei Clube de Ipameri.
Em Ipameri tem muito a se preservar e conservar, como fachadas de residências, prédios públicos e privados. Para isso tem que conscientizar as pessoas da importância que isso representa para a história de um povo. Ipameri não pode fazer jus à expressão do Já teve.

          Deus queira que não aconteça nada parecido com os exemplos citados acima em relação ao prédio do Cine Estrela e que seja preservado o sítio Art Déco que tanto embeleza o que podemos chamar de Centro Histórico de Ipameri.

          O povo ipamerino deve agradecimento a alguns nomes que lutam para manter a memória da nossa querida terra, alguns deles são: Lupércio Mundim, Beth Costa, Ramon Edreira e Nando Cosac.

          Um grande abraço a todos os vigilantes da memória ipamerina.


Rander Rezende
Ipamerino residente em Goiânia





Rander Rezende nasceu em Ipameri em 1978. Mudou-se para Goiânia com seus pais e irmã aos 13 anos. Na sua adolescência começou a tomar gosto pelas artes e literatura, tendo tido influência de seu pai que sempre escreveu também. Sempre teve prazer em falar das suas origens, nunca esquecendo de sua vida na Travessa Paranaíba, de onde tem ótimas lembranças.

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